quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Uma entrevista interessante...

No final do ano passado, a nossa professora convidou uma amiga a vir à nossa sala, para poder partilhar connosco a sua experiência, enquanto professora numa escola em Timor Leste. Ficámos curiosos com as suas respostas e a entrevista deu-nos uma perspetiva diferente do ensino num dos países mais jovens do mundo.

Entrevista a uma professora que leciona em Timor Leste

1-Gosta de viver em Timor? (Sofia)
Gosto muito. As pessoas são muito simpáticas e educadas.

2- Quantos aviões apanha para chegar a Timor? (João)
Vários! Apanho sempre um avião até um país da Europa (Espanha, Alemanha, Holanda, ou outro). Depois aí apanho um avião maior. Já vim no maior avião do mundo, no M 40. Fazemos sempre escala em Singapura, ou apenas paragem técnica. Algumas companhias também fazem escala em Doha, no Qatar. A viagem entre a Europa e Singapura, é a maior, demorando cerca de 13 horas seguidas. O mesmo avião leva-nos até Bali (Indonésia). Em seguida apanho outro avião, mais pequeno, que só voa durante o dia, pois não pode aterrar durante a noite em Dili (Timor Leste). Por isso, quando vamos de Portugal para Timos, temos sempre de dormir uma noite em Bali.
Quando chego a Dili, ainda tenho uma longa viagem pela frente, pois tenho de me deslocar para o distrito onde trabalho, Oe-cusse, que é o mais isolado de todos. É o mais isolado porque está dentro da Indonésia. Tenho de apanhar um barco, o Nakroma (figura1), que demora cerca de 12 horas até Oe-cusse. Dá uma volta muito grande para não navegar nas águas indonésias. Há ainda outra possibilidade, que é a avioneta, mas que fica muito cara. O preço de aluguer de uma avioneta é 1290 USD (dólares americanos), mas quando já está alugada por alguma entidade, transporta pessoas por 50 USD. A avioneta é rápida, só demora 45 minutos e leva no máximo 7 pessoas de cada vez. As pessoas e as bagagens de cada uma, são pesadas antes de entrar.
Outra possibilidade é a via terrestre, onde se passam as duas fronteiras, ou seja, para sair de Timor Leste e entrar na Indonésia e para sair da Indonésia e entrar novamente em Timor Leste.  Esta viagem fica cara, pois além do combustível, é necessário pagar o visto para passar na Indonésia, que custa 20 USD para a viatura e 45 USD, por cada pessoa, em cada uma das viagens. Este visto é pedido na Embaixada da Indonésia, que existe em Oe-cusse, e demora cerca de uma semana para ser atribuído, pois o passaporte tem de ir para Dili e voltar. Existe aqui o inconveniente de ficarmos privados do nosso passaporte durante uma semana. Se por algum motivo tivermos de sair do país, não o poderemos fazer sem passaporte.
Eu já fiz as três viagens e posso referir que em todas podemos contemplar paisagens lindíssimas. Nas viagens de barco, podemos ver golfinhos.
A viagem de barco é a mais usada por nós.



 















 Figura 1 - Nakroma


3- Quanto dinheiro gasta na viagem? (Carolina)
Dili/ Bali - Bali/ Portugal – cerca de 1200 euros, o mais barato.

4- Um dólar corresponde a quantos euros? (João)
Um dólar corresponde, mais ou menos a 0,70 euros.

5- Os nomes das pessoas são parecidos com os nossos? (Bruna)
Alguns são, mas outros são muito diferentes. Posso dar-vos alguns exemplos: Egídio, Ludofico, Lizeite, Estevánia, Noviana, Efigínio, Edgilson, Quintiliano, Domingas… Mas também há alguns que são iguais: Olinda, Fernando, João, Eugénio… Os pais, por vezes, escolhem os nomes dos filhos, mediante o dia da semana ou o mês em que nasceram. 

6- Que língua se fala lá?
Timor Leste tem duas línguas oficiais: Português e Tétum. Além destas, cada distrito tem uma língua própria. Por exemplo, em Oe-cusse é Baikêno. Também se fala Bahasa, sobretudo no mercado, que são influências da ocupação Indonésia e também devido à proximidade dos dois países, sobretudo no distrito de Oe-cusse. Alguns habitantes também dominam a língua inglesa.

7- Sabe falar Tetum?
Só sei alguns nomes de animais e formas de cumprimentar e despedir. Sei também outras palavras que vou aprendendo no dia a dia. Tétum não tem formas verbais.

8- As pessoas são mais pobres ou mais ricas? Leonor
As pessoas, de uma forma geral, são mais pobres. Na zona mais interior é onde se vê a maior pobreza. No centro do distrito não se vê ninguém a passar fome, nem outra necessidade, embora as pessoas estejam habituadas a viver com pouco dinheiro. A base da sua alimentação é o arroz. E em grande maioria é só arroz, com alguns legumes.
Nas escolas timorenses não há mesas nem cadeiras para todos, o quadro é muito velho e não têm materiais. As turmas são constituídas por cerca de 50 alunos. A nossa escola já tem melhores condições e as turmas são menores.

9- Como se chama a escola onde trabalha? (Liane)
Escola de Referência – Centro de Formação de Oe-cusse.

10- Gosta da escola onde trabalha? (Inês)
Sim, gosto muito. É a única escola portuguesa em Oe-cusse. É obrigatório dar as aulas em Português.

11- Quantos alunos tem cada turma? (Liane)
A minha turma tem 23 alunos, mas há turmas que vão até aos 32 meninos.

12- Os alunos são bons ou maus? (Leonor)
Há alunos melhores e outros piores, alguns mais esforçados do que outros. Mas, apesar de não terem livros para levar para casa e os pais não poderem ajudar muito, são interessados e muito educados. E há meninos muito inteligentes e trabalhadores.

13- Como se vestem os alunos na escola? (Leonor)
Os alunos aqui em Timor, andam todos de farda, incluindo os alunos da nossa escola. Mas a farda é diferente das escolas timorenses.


14- Como se vestem as crianças sem ser na escola?
Calçam chinelos, ou andam descalços porque gostam de andar assim. Andam sempre com roupas frescas, porque aqui está muito calor. Vestem-se melhor para ir à missa.

15- Como é o quadro na escola? (Beatriz)
O quadro é de madeira, pintado a preto, mas alguns são um pouco antigos.

16- Quantas salas tem a escola onde trabalha? (Liane)
A escola tem 12 salas, incluindo as da pré-escola.



“Uma das coisas mais bonitas em Timor é o pôr-do-sol. É mais cedo, mais rápido, mas diferente todos os dias...

 
 e 


Figura 2 e 3 –Pôr-do-sol em Timor Leste.
À esquerda está um pôr-do-sol em Oe-cusse, numa fase mais avançada.

À direita está um pôr-do-sol, ainda no início, na Praia da Areia Branca, em Dili.

Obrigada Professora Carla por ter partilhado connosco a sua experiência!

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