No final do ano passado, a nossa professora convidou uma amiga a vir à nossa sala, para poder partilhar connosco a sua experiência, enquanto professora numa escola em Timor Leste. Ficámos curiosos com as suas respostas e a entrevista deu-nos uma perspetiva diferente do ensino num dos países mais jovens do mundo.
Entrevista a uma professora que leciona em Timor Leste
1-Gosta de
viver em Timor? (Sofia)
Gosto muito. As pessoas são muito simpáticas e
educadas.
2- Quantos
aviões apanha para chegar a Timor? (João)
Vários! Apanho sempre um avião até um país da
Europa (Espanha, Alemanha, Holanda, ou outro). Depois aí apanho um avião maior.
Já vim no maior avião do mundo, no M 40. Fazemos sempre escala em Singapura, ou
apenas paragem técnica. Algumas companhias também fazem escala em Doha, no
Qatar. A viagem entre a Europa e Singapura, é a maior, demorando cerca de 13
horas seguidas. O mesmo avião leva-nos até Bali (Indonésia). Em seguida apanho
outro avião, mais pequeno, que só voa durante o dia, pois não pode aterrar
durante a noite em Dili (Timor Leste). Por isso, quando vamos de Portugal para
Timos, temos sempre de dormir uma noite em Bali.
Quando chego a Dili, ainda tenho uma longa viagem
pela frente, pois tenho de me deslocar para o distrito onde trabalho, Oe-cusse,
que é o mais isolado de todos. É o mais isolado porque está dentro da
Indonésia. Tenho de apanhar um barco, o Nakroma (figura1), que demora cerca de
12 horas até Oe-cusse. Dá uma volta muito grande para não navegar nas águas
indonésias. Há ainda outra possibilidade, que é a avioneta, mas que fica muito
cara. O preço de aluguer de uma avioneta é 1290 USD (dólares americanos), mas
quando já está alugada por alguma entidade, transporta pessoas por 50 USD. A
avioneta é rápida, só demora 45 minutos e leva no máximo 7 pessoas de cada vez.
As pessoas e as bagagens de cada uma, são pesadas antes de entrar.
Outra possibilidade é a via terrestre, onde se
passam as duas fronteiras, ou seja, para sair de Timor Leste e entrar na
Indonésia e para sair da Indonésia e entrar novamente em Timor Leste. Esta viagem fica cara, pois além do
combustível, é necessário pagar o visto para passar na Indonésia, que custa 20
USD para a viatura e 45 USD, por cada pessoa, em cada uma das viagens. Este
visto é pedido na Embaixada da Indonésia, que existe em Oe-cusse, e demora
cerca de uma semana para ser atribuído, pois o passaporte tem de ir para Dili e
voltar. Existe aqui o inconveniente de ficarmos privados do nosso passaporte
durante uma semana. Se por algum motivo tivermos de sair do país, não o
poderemos fazer sem passaporte.
Eu já fiz as três viagens e posso referir que em
todas podemos contemplar paisagens lindíssimas. Nas viagens de barco, podemos
ver golfinhos.
A viagem de barco é a mais usada por nós.
Figura 1 - Nakroma
3- Quanto
dinheiro gasta na viagem? (Carolina)
Dili/ Bali - Bali/ Portugal – cerca de 1200 euros,
o mais barato.
4- Um dólar
corresponde a quantos euros? (João)
Um dólar corresponde, mais ou menos a 0,70 euros.
5- Os nomes
das pessoas são parecidos com os nossos? (Bruna)
Alguns são, mas outros são muito diferentes. Posso
dar-vos alguns exemplos: Egídio, Ludofico, Lizeite, Estevánia, Noviana,
Efigínio, Edgilson, Quintiliano, Domingas… Mas também há alguns que são iguais:
Olinda, Fernando, João, Eugénio… Os pais, por vezes, escolhem os nomes dos
filhos, mediante o dia da semana ou o mês em que nasceram.
6- Que
língua se fala lá?
Timor Leste tem duas línguas oficiais: Português e
Tétum. Além destas, cada distrito tem uma língua própria. Por exemplo, em
Oe-cusse é Baikêno. Também se fala Bahasa, sobretudo no mercado, que são
influências da ocupação Indonésia e também devido à proximidade dos dois
países, sobretudo no distrito de Oe-cusse. Alguns habitantes também dominam a
língua inglesa.
7- Sabe
falar Tetum?
Só sei alguns nomes de animais e formas de
cumprimentar e despedir. Sei também outras palavras que vou aprendendo no dia a
dia. Tétum não tem formas verbais.
8- As
pessoas são mais pobres ou mais ricas? Leonor
As pessoas, de uma forma geral, são mais pobres. Na
zona mais interior é onde se vê a maior pobreza. No centro do distrito não se
vê ninguém a passar fome, nem outra necessidade, embora as pessoas estejam
habituadas a viver com pouco dinheiro. A base da sua alimentação é o arroz. E
em grande maioria é só arroz, com alguns legumes.
Nas escolas timorenses não há mesas nem cadeiras
para todos, o quadro é muito velho e não têm materiais. As turmas são constituídas
por cerca de 50 alunos. A nossa escola já tem melhores condições e as turmas
são menores.
9- Como se
chama a escola onde trabalha? (Liane)
Escola de Referência – Centro de Formação de Oe-cusse.
10- Gosta da
escola onde trabalha? (Inês)
Sim, gosto muito. É a única escola portuguesa em Oe-cusse.
É obrigatório dar as aulas em Português.
11- Quantos
alunos tem cada turma? (Liane)
A minha turma tem 23 alunos, mas há turmas que vão
até aos 32 meninos.
12- Os
alunos são bons ou maus? (Leonor)
Há alunos melhores e outros piores, alguns mais
esforçados do que outros. Mas, apesar de não terem livros para levar para casa
e os pais não poderem ajudar muito, são interessados e muito educados. E há
meninos muito inteligentes e trabalhadores.
13- Como se
vestem os alunos na escola? (Leonor)
Os alunos aqui em Timor, andam todos de farda,
incluindo os alunos da nossa escola. Mas a farda é diferente das escolas
timorenses.
14- Como se
vestem as crianças sem ser na escola?
Calçam chinelos, ou andam descalços porque gostam
de andar assim. Andam sempre com roupas frescas, porque aqui está muito calor. Vestem-se
melhor para ir à missa.
15- Como é o
quadro na escola? (Beatriz)
O quadro é de madeira, pintado a preto, mas alguns
são um pouco antigos.
16- Quantas
salas tem a escola onde trabalha? (Liane)
A escola tem 12 salas, incluindo as da pré-escola.
“Uma das
coisas mais bonitas em Timor é o pôr-do-sol. É mais cedo, mais rápido, mas
diferente todos os dias...
e
Figura 2 e 3 –Pôr-do-sol em Timor
Leste.
À esquerda está um pôr-do-sol em
Oe-cusse, numa fase mais avançada.
À direita está um pôr-do-sol,
ainda no início, na Praia da Areia Branca, em Dili.
Obrigada Professora Carla por ter partilhado connosco a sua experiência!